Numa tarde quente de verão cá o Cidadão abt foi visitar o seu homónimo de Cidadelhe, no Concelho de Pinhel do Distrito da Guarda, concluindo de antemão que o dito cujo Cidadão de Cidadelhe não é tão jeitoso quanto este, factor que o deixou um pouquito mais tranquilo...
Ao Povo de Cima designa-se por Eiras, talvez porque estando o ventoso local mais exposto ao Sol, se adequava à malha dos cereais, constituindo-se o Povo de Baixo por um enorme casario talhado em tosco granito servido por ruelas pedregosas...
De rosto triangular, testa proeminente, olhos avantajados, membros longos e esguios... pairando sobre uma esfera... assemelhando-se a São Sebastião, assim é o misterioso Cidadão de traços alienígenas... talhado em baixo relêvo num bloco de granito encontrado algures entres as fragas rochosas do rio Côa...
...provávelmente durante ano de 1656, se fizermos fé na inscrição do pilar direito do arco erguido ao lado do campanário da aldeia...
Aquele Cidadão foi disputado entre as gentes do Povo de Baixo e as do Povo de Cima... Cidadelhe é dividida por uma fronteira imaginária...
Se treparmos a escadaria por debaixo do Cidadão iremos dar ao patamar dum campanário...
... de onde avistamos um deslumbrante casario medieval a perder de vista diluindo-se na paisagem do vale do Côa e ao fundo desta imensidão, a cordilheira da Marofa limitando o horizonte com a Serra do Cerejal, a Serra da câmara, o Monte de São Marcos e o Monte do Penteado.
As casas são granito...
A fonte é granito...
As paisagens são granito...
Os pombais são granito...
Os caminhos são granito...
Só o Palio de 1707 não é granito... Esse tesouro de veludo bordado a seda, prata, ouro e estanho, está envolto em alvo lençol religiosamente escondido algures num caixotão de madeira que em rituais secretos vai transitando de casa em casa...
“Pão com olhos, queijo sem olhos e vinho que salte aos olhos”... é o provérbio local que nos dita a hospitalidade de Cidadelhe.
A quinhentos e vinte metros de altitude, entre as escarpas rochosas do Vale do Côa e do Vale do Massueime, encontramos o calcanhar do mundo...
É um dos fantásticos cantinhos da Grande Rota do Vale do Côa a visitar, classificado como Património Mundial da Humanidade.